LENDAS PORTUGUESAS
Caros leitores o diálogo que é a mesma coisa que uma boa cavaqueira, foi e será sempre o modo mais simpático da descoberta e do bom entendimento para um indiscreto (como eu) muito melhor.
É com o povo que em alguns modos de contar historietas (algumas de grande importância) enriquecem a nossa arca de recordações. Tudo isto vem a propósito das lendas, que por vezes nos contam das suas terras, algumas bem divertidas, amenas mas enigmáticas e outras que nos deixam quase crentes com a discrição. Pesquisar estas narrativas é maravilhoso! Aquela que já fiz menção numa crónica e que me foi contada por uma residente em S.Torcato (Guimarães) sobre o que lhe aconteceu com São Torcato, Santo glorioso martirizado e que se encontra exposto no glorioso Templo, é um exemplo a respeitar.
Exposto este preâmbulo gostaria de levar ao vosso conhecimento a lenda de Montemor-o-Novo, a linda cidade Alentejana que é nosso Concelho, extraída de lendas de Portugal e contada em verso pelo grande poeta Alentejano Conde de Monsaraz. Esta lenda das arcas fala da pobreza Alentejana, naquela época, e não fala o autor Funestador de tão funesta lenda esquecendo-se de acrescentar os bons sentimentos dos Alentejanos, trabalhadores e lutadores por uma vida melhor, evidentes e a grandeza da sua alma que será eterna.
José J.Fadista Simões
A LENDA DE MONTEMOR-O-NOVO
AS DUAS ARCAS
O Conde de Monsaraz, poeta alentejano,
Assim pôs em verso a lenda das arcas:
Entre escombros na natureza
De vetuza fortaleza,
Batidas de vento agreste,
Empedemidas, cerradas, há duas arcas pejadas,
Uma de ouro outra de peste.
Ninguém sabe ao certo qual
Das duas arcas encerra,
O fecundo manancial
Que fartará de ouro a terra
Mesquinha de Portugal;
Ou qual, se não imprudente
Lhe erguer a tampa funérea Vomitará de repente A fome, a febre, a miséria, que matará toda a gente.
Sempre que o povo faminto,
Maltrapilho e miserando,
Fosse ele Cristão ou moiro,
Entrou no tosco recinto
Para salvar-se arrombando
A arca pejada de oiro,
Quedou-se os braços erguidos.
O olhar atónito e errante,
Sem atinar de que lado
Vinha morrer-lhe aos ouvidos
Uma voz agonizante
Entre ameaças e gemidos:
«Ó povo de Montemor,
Se estás mal, se és desgraçado.
Suspende toma cuidado.
Que podes ficar pior!»?
E nestas perplexidades
E eternas hesitações
Hão-de passar as idades,
Suceder-se às gerações
E continuar na rudeza,
Batidas de vento agreste.
Empedemidas, cerradas,
As duas arcas pejadas,
Uma de oiro outra de peste.
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