quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MEMÓRIAS DE UM GUARDA-REDES

Episódio 17 – OS ATRASOS DO CENTRAL (A MINHA VINGANÇA); OU; ACHO

QUE É DESTA QUE ELE ME MATA.

Como já se devem ter apercebido, alguns dos “cromos” que entram nas minhas histórias, por vezes são “repetidos”, que é como quem diz, de vez em quando lá aparecem de novo, e isto porque como é natural, ao longo destes anos de convivência no Escoural, existiram sempre algumas pessoas com quem convivi mais do que outras, pelas mais diversas razões. É o caso do “cromo” desta memória que me tem perseguido até aos dias de hoje.

Sendo assim, como alguém diria (não te rias Daurindo Santos), hoje “eu vou fazer a vingança”

E isto porque quando há algumas memórias atrás, mais propriamente no episódio nº. 2, escrevi sobre o respeito e admiração que tenho (e sempre terei), por aquele que considero ter sido um dos melhores defesas centrais com quem tive o prazer e honra de ombrear (o Daurindo Rabino), nem calculam o “trinta e um” que arranjei. É que o visado nesse artigo, demonstrando a sua habitual modéstia, ficou todo chateado comigo por ter publicado um artigo em que a certa altura focava as virtudes que sempre nele encontrei como jogador de futebol. Mas como eu sou chato como a potassa, volto à carga, desta vez em termos de “vingança”.

Pois bem, já que ele não quer ser o meu defesa central preferido, vou aproveitar para “desancá-lo” de tudo (hi,hi,hi), e pôr a nu o seu maior defeito enquanto jogador, pode ser que assim ele faça as pazes comigo.

Para que se perceba a história de hoje, é necessário relembrar que as regras do futebol têm vindo a sofrer ligeiras alterações ao longo dos anos, e para que a história de hoje tenha sentido, teremos de nos debruçar sobre uma das regras que foi modificada.

Hoje em dia, se os jogadores quiserem atrasar a bola para o seu guarda-redes de modo a que ele a possa segurar nas mãos, terão de a passar com qualquer parte do corpo, excepto com o pé, ou com o braço, o que inclui a mão (como é óbvio).

Só que aqui há alguns anos atrás, esta regra não era exactamente assim, pois a bola para ser recebida pelo guarda-redes com as mãos, poderia ser atrasada pelos colegas de equipa com qualquer parte do corpo, excepto com os membros superiores, ou seja, com os braços e mãos.

Quer isto dizer que, naquela altura era muito normal atrasar-se a bola para o guarda-redes para ele a agarrar, e até dava jeito muitas das vezes, quando queríamos “queimar tempo”.

E é aqui que vai começar a minha vingança (eu avisei-te Daurindo), pois o nosso “pior central do mundo” (gostas assim?), como qualquer outro jogador que se prezasse, também aproveitava essa hipótese amiudadas vezes.

Mas é aqui que por vezes “a coisa entornava”, pois não sei se era do entusiasmo ou da vontade de marcar golos, de vez em quando o passe que ele me fazia mais parecia um excelente remate à sua própria baliza, ao que em diversas vezes me tive de opor com a “defesa da tarde”.

Sim, isto é verdade, e quem acompanhou a equipa naqueles tempos lembra-se dos sustos que todos nós de vez em quando apanhávamos, e eu em particular, com os passes “suaves” e “bem medidos” que o Daurindo me fazia.

Nem sei como consegui resistir a tantos “ataques de coração”. Acho até que me tornei imortal.

Ainda por cima e para ajudar à festa, quando me virava para ele, e lhe perguntava estupefacto : “- então Daurindo, passaste-te ? – “; ele geralmente respondia-me : “- era só para ver se estavas com atenção, pois eu sabia que a defendias.– “. Boa desculpa, hein?!

Uma coisa é certa, e penso que todos os Escouralenses concordam comigo, esquecendo estes “ataques cardíacos” que nos provocou a todos, ele continua a ser para muitos, o nosso defesa central preferido (lá se vai de novo zangar comigo).

A verdade é que, quando esses jogos acabavam, e depois de tudo o que acontecesse dentro do campo, saíamos geralmente abraçados e com um sorriso nos lábios, pois nada nem ninguém conseguiria manchar aquela amizade, até porque no fim de semana seguinte haveria mais futebol, para que os meus “sustos” pudessem continuar, e lá teríamos novamente de nos aturar um ao outro.

Hoje parece-me um pouco desajustado mandar um abraço para a pessoa visada na história, pois possivelmente vai ficar de novo sem vontade de me ver, nem “pintado”. Mas nada nem ninguém me pode proibir, de mais uma vez mandar um carinho muito especial para o resto da família, que não têm culpa dos meus “ataques cardíacos”, ocasionados por aquele defesa central que todos nós admiramos, e que tivemos o prazer e a honra de ver jogar.

Pronto, a vingança está consumada, sinto-me muito mais aliviado (será que é desta que ele me vai matar ???!!!).

Despeço-me até à próxima história (se sobreviver a esta) com AQUELE ABRAÇO.

VITOR RANGEL

vrangel@netcabo.pt

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