quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MEMÓRIAS DE UM GUARDA-REDES

Episódio 18 – AS MATINÉS DANÇANTES

Com que então achavam que me ia esquecer disto, hein ?! Claro que esta é uma memória um pouco mais pequena que o habitual, mas acreditem que não me perdoaria a mim mesmo, se não a passasse para o papel.

Quantos namoros fortalecidos nessas matinés, quantos namoros começados ou até terminados, quantas desilusões de amor e cenas de ciúmes, quantos risos de felicidade por se ter finalmente conquistado o namorado ou namorada desejados !? E pois claro (no bar não havia copos de leite), quantas “bejecas” bebidas !?

É verdade, quando cheguei ao Escoural, já lá vai o longínquo ano de 1974, jogo em casa era sinónimo de matiné dançante, geralmente na Sociedade, com um gira-discos e respectivos discos de vinil. Na impossibilidade de ser na Sociedade, havia sempre a casa de um dos intervenientes, que de imediato ficava disponível para o evento.

Assim que o jogo acabava, depois do banho tomado, lá ia o pessoal a caminho da Sociedade, e alguns até parece que corriam, se calhar com medo que as namoradas se gastassem ou esgotassem.

Sim, que isto de jogo no Escoural sem bailação e namorico a seguir, não tinha graça nenhuma.

Não … não olhem para mim, eu apenas servia de disco-jockey, é que, além de na altura ser solteiro, desimpedido e bom rapazinho, sempre fui um grande pé de chumbo, e pobre da rapariga que caísse nos meus braços, aliás, que caísse debaixo dos meus pés (número 43, biqueira larga).

Não dançava, mas por vezes dava-lhes cabo da cabeça, quando esperavam música romântica para agarrarem e espremerem as namoradas, eu dava-lhes com um dos meus discos de rock, que até se passavam do miolo.

Curiosamente, muitos desses casais acabaram por formar família, portanto, quer isto dizer que os bailaricos até deram o seu fruto, cumpriram com a sua função social, e influenciaram de sobremaneira o abono de família, daí a justificação para “os sucessivos, justificados e preocupantes aumentos do deficit no orçamento do estado”. E estarão alguns a pensar:”- Eh porra, então não é que o gaiatão está falando que nem um Ministro???!!! É que eles falarem bem, até falam … nós é que não os percebemos –“.

E lá passávamos um bom bocado até à hora de jantar para uns, e da hora do lanche da despedida para os “estrangeiros” que tinham de rumar à Baixa da Banheira.

O que é curioso, é que este hábito parecia não existir apenas no Escoural, pois em diversas deslocações da equipa a outras localidades, verificámos também lá existir esse costume, tendo nós por vezes irrompido por esses bailes dentro, tendo alguns dos meus colegas de equipa participado activamente nos mesmos.

Lembro-me de uma vez termos ido jogar a Bencatel onde, como no Escoural, era costume fazerem o baile a seguir ao jogo. Só que as raparigas estavam todas sentadas na expectativa que alguém as convidasse, e ninguém se decidia, nem mesmo os Bencatelenses. Foi preciso o Rui Rabino, que sempre foi muito descarado, ir convidar uma gaiata para dançar para então haver baile de facto, pois aquilo mais parecia um velório.

Se foi difícil começar o baile, o mais difícil depois foi arrancá-los de lá. Não era por nada, é que o último comboio para a Baixa da Banheira era às dez da noite, como tal não podíamos passar ali o resto do serão.

A verdade é que com o tempo este hábito da matiné dançante foi acabando, pelo menos no Escoural, até que acabou definitivamente. São os sinais do tempo, pois os jovens de hoje têm outros interesses e passatempos, que na altura nem nos passava pela cabeça que poderiam vir a existir.

Desta vez, foi mais uma lembrança do que uma história, e tenho a certeza que alguns que a estão a ler, estarão a pensar: “- É verdade, já nem nos lembrávamos disto, este magano mesmo depois de velho continua a chocalhar-nos a caixa dos pirolitos -“.

Para todos esses companheiros (e respectivas companheiras) de matinés, mando aquele carinho muito especial, com os desejos das maiores felicidades.

Despeço-me até à próxima história, com AQUELE ABRAÇO.

VITOR RANGEL

vrangel@netcabo.pt

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